MV. Mauricio C. Aquino
Mestrando em Ciências da Saúde
www.CaracolAfricano.com
O pontapé inicial desta verdadeira “pelada
de várzea” que resultou na grave crise contemporânea da malacologia nacional
foi dado durante o XVII EBRAM, ocorrido em julho de 2001, na cidade de Recife,
com a realização da Mesa Redonda intitulada “Achatina fulica no Brasil. Qual a sua problemática?”. (EBRAM XVII,
2001) Este debate ocorrido no Auditório Prof. Antonio Lisboa em 20 de julho
reuniu diversos nomes da malacologia brasileira: a Dra. Silvana Carvalho Thiengo
foi a coordenadora dos trabalhos; entre os participantes estavam os profs.
Sonia Barbosa dos Santos, Edilson Matos, Luis Ricardo Lopes de Simone, José
Carlos Nascimento de Barros, Celso Lago Paiva e o Sr. William do Amaral. Neste
debate foi elaborado um documento denominado “Moluscos
Exóticos Introduzidos no País, Principalmente Achatina fulica
Bowdich, 1822” que resultou, a posteriori, no processo 21000.001595/2002-61 do Departamento de
Defesa e Inspeção Vegetal – DDIV do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, intitulado “Controle
e Erradicação da Praga Achatina
fulica
no Brasil”, dando início a rápida caminhada rumo à proibição da
criação do Achatina fulica no país. Em resposta a este processo foi
publicado em 20/01/2003, o Parecer Técnico DPC/CPP/ DDIV, n° 003/03. Entre
as considerações finais deste documento vale a pena ressaltar:
“[...] 5- A
introdução do citado molusco é um sério problema para a malacofauna brasileira,
principalmente por esta não ser totalmente estudada e conhecida; 6- Os moluscos
soltos ou fugidios podem vir a ser um sério problema à agricultura brasileira,
assim como ao meio ambiente; 7- Existe um grande risco à saúde humana pela
quantidade de animais soltos e pela possibilidade de transmissão de
enfermidades; [...] 11-Existem grandes possibilidades de se conseguir a sua
erradicação.”
Antes de comentar as considerações
acima, vale a pena frisar inicialmente que, a maior ameaça à malacofauna no
Brasil no final das contas, acabou sendo a histeria gerada pela manipulação
tendenciosa das justificativas utilizadas para o combate do próprio Africano. Um
bom exemplo dos efeitos destas ações, segundo Aquino (2011), ocorreu no ano passado,
quando o programa Globo Rural levou ao ar uma matéria sobre a infestação do
Africano em três municípios sergipanos, tradicionais pelo cultivo de laranjas.
Apesar dos estragos causados por este animal durante a apresentação da matéria
não terem sido mostrados, ficou claramente evidenciado, a presença de uma
grande quantidade de caracóis nativos endêmicos mortos entre os milhares de
Africanos, ficando provado, pela primeira vez em rede nacional, os efeitos
reais da nefasta campanha em prol da erradicação do Africano sobre os nativos,
muitos deles, ameaçados de extinção.
Em relação ao “grande risco à saúde
humana”, por exemplo, até hoje, janeiro de 2012, mesmo depois de o Africano
estar presente em todos os estados brasileiros, de acordo com Aquino (2011),
nunca houve um único caso publicado, apesar
dos esforços, de qualquer zoonose transmitida por ele no país. Não que isso não seja possível, mas está
mais do que provado que esta possibilidade é raríssima. E
como podemos constatar hoje, apesar dos esforços combinados das unidades de
saúde em todo o país, a sua erradicação até o momento não foi possível.
Em nossa busca pela origem do medo irracional da população pelo Caracol
Africano (Achatina fulica) que como sabemos, extrapolou para as espécies nativas, o nome do Instituto Brasileiro Helicicultura (IBH) e de seu presidente, William do
Amaral, contraditoriamente, surge com grande destaque. Contraditoriamente
porque, autodenominando-se técnico
especialista na área da Malacocultura Terrestre, William do Amaral foi, até a primeira metade de 2001, um fervoroso defensor da adoção da Criação de Caracóis para comunidades carentes no Brasil para então, a partir da segunda metade deste mesmo ano, transformar-se
no maior inimigo público declarado do Achatina
fulica, dando início à campanha, neste mesmo ano executada pelo IBH e adotada pelo IBAMA que arraigou, ao longo dos anos, o medo e o
preconceito também entre os
Governos Municipais e
Estaduais, sem esquecer-se de citar a mídia brasileira. De acordo com Colley
& Fischer (2009, p. 678) esta “eficiente”
Campanha levada a cabo na década passada foi denominada "Programa Nacional de Saneamento Ambiental da Invasão do Achatina fulica - Preocupação Nacional" e, seus
efeitos, repercutem-se até os dias atuais, numa nefasta influência que
ultrapassou fronteiras, tendo contribuído diretamente para a criação de um
impensável neologismo na língua portuguesa, a malacofobia.
O mais curioso é que Amaral, apesar de todo o seu empenho, não chegou a participar da equipe da "Comissão
Interinstitucional para Ordenamento e Normatização da Criação da Espécie
Exótica Achatina fulica" em agosto de 2001 por improbidade curricular, de acordo com comunicação pessoal. De
acordo com seu currículo, William do
Amaral tem duas "especializações" em ecologia, uma delas, de "uma semana"; é pregoeiro eletrônico, holoterapeuta formado em ReiKi Master Usui ,
Osho, Kahuna e Tibetano, Sensei Gendai-Reiki-HO, Acupunturista Auricular,
Iridologista, Terapeuta Floral, Cromoterapeuta, Radiestesista, Radiônica,
Bioenergias, Geobiologia, Massagem Shiatsu, Relaxamento e Meditação,
Numerólogo, Teologia Gnóstica e Esotérico de Cabala. Atualmente é aluno de
Homeopatia Clássica pela UFV e Presidente da Fundação CEDIC - Centro de
Experimentação e Divulgação Científica, se apresentando na condição de Engenheiro,
atuante como consultor técnico ambiental do IBAMA, além de Diretor do IBH -
Instituto Brasileiro de Helicicultura, Pesquisador em Saneamento Ambiental de Espécies Exóticas
Invasoras em Áreas Urbanas, Peri-urbanas e agrícolas e, todavia Consultor
Técnico de Malacologia da Rede Globo. Entretanto, as informações não são
atualizadas pelo autor desde o ano de 2008. (P. LATTES, 2012).
No entanto, em 2004, tão repentinamente como
surgiu em 1999, William do Amaral, - presidente do IBH - desaparece do âmbito
público malacológico nacional. Durante este curto, porém, prolífero período, o
IBH gerou folders, comercializou livros e CDs, distribuiu cartazes, produziu
vídeos comerciais, ministrou palestras e apresentações na TV, participando de
atos públicos oficiais.
As conseqüências desse notável, porém,
nefasto esforço, tem sido fortemente combatido pela Campanha Aliança pela Vida,
criada e conduzida pelo Médico Veterinário e Ambientalista Mauricio C. Aquino
com o apoio do Geógrafo e Pesquisador Malacologista Ignacio Agudo-Padrón, cujo
objetivo principal justamente é quebrar este infeliz paradigma.
Referências:
AMARAL, William do. 2001. Projeto Caracol. In:
Programa e Resumos XVIII Encontro Brasileiro de Malacologia – XVII EBRAM,
Recife/ PE, Julho de 2001.
AQUINO, Mauricio. A
imprensa, o maior inimigo da malacofauna mundial. Disponível em: <http://projetocaramujoafricano.blogspot.com/2011/10/imprensa-o-maior-inimigo-da-malacofauna.html>
Acesso em: 03/01/2012.
AQUINO, Mauricio. Interdisciplinaridade:
o Africano em todos os estados do Brasil. <http://projetocaramujoafricano.blogspot.com/2011/09/interdisciplinaridade-uma-saida-para.html>
Acesso em: 03/01/2012.
COLLEY, Eduardo; FISCHER, Marta Luciana. 2009.
Avaliação dos problemas enfrentados no manejo do caramujo gigante africano Achatina fulica (GASTROPODA: PULMONATA)
no Brasil. Zoologia,
Curitiba, 4(26): 674-683.
PLATAFORMA LATTES. Currículo de William do Amaral. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4746498P4 > Acesso em:
04/01/2012
EBRAM XVII. I Simpósito
nordestino de Cultivo de Moluscos Bivalves. Livro de Resumos. 17 a 20 de julho de 2001.
Disponível em: <http://issuu.com/sbmalaco/docs/livro_resumos_xvii_ebram_recife_2001?mode=window&backgroundColor=%23222222>
Acesso em: 04/01/2012.
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