Friday, January 6, 2012

AS ORIGENS DA SILENCIOSA CRISE MALACOLÓGICA BRASILEIRA

MV. Mauricio C. Aquino
Mestrando em Ciências da Saúde
www.CaracolAfricano.com
O pontapé inicial desta verdadeira “pelada de várzea” que resultou na grave crise contemporânea da malacologia nacional foi dado durante o XVII EBRAM, ocorrido em julho de 2001, na cidade de Recife, com a realização da Mesa Redonda intitulada “Achatina fulica no Brasil. Qual a sua problemática?”. (EBRAM XVII, 2001) Este debate ocorrido no Auditório Prof. Antonio Lisboa em 20 de julho reuniu diversos nomes da malacologia brasileira: a Dra. Silvana Carvalho Thiengo foi a coordenadora dos trabalhos; entre os participantes estavam os profs. Sonia Barbosa dos Santos, Edilson Matos, Luis Ricardo Lopes de Simone, José Carlos Nascimento de Barros, Celso Lago Paiva e o Sr. William do Amaral. Neste debate foi elaborado um documento denominado “Moluscos Exóticos Introduzidos no País, Principalmente Achatina fulica Bowdich, 1822 que resultou, a posteriori, no processo 21000.001595/2002-61 do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal – DDIV do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, intitulado “Controle e Erradicação da Praga Achatina fulica no Brasil”, dando início a rápida caminhada rumo à proibição da criação do Achatina fulica no país. Em resposta a este processo foi publicado em 20/01/2003, o Parecer Técnico DPC/CPP/ DDIV, n° 003/03. Entre as considerações finais deste documento vale a pena ressaltar:
“[...] 5- A introdução do citado molusco é um sério problema para a malacofauna brasileira, principalmente por esta não ser totalmente estudada e conhecida; 6- Os moluscos soltos ou fugidios podem vir a ser um sério problema à agricultura brasileira, assim como ao meio ambiente; 7- Existe um grande risco à saúde humana pela quantidade de animais soltos e pela possibilidade de transmissão de enfermidades; [...] 11-Existem grandes possibilidades de se conseguir a sua erradicação.”
Antes de comentar as considerações acima, vale a pena frisar inicialmente que, a maior ameaça à malacofauna no Brasil no final das contas, acabou sendo a histeria gerada pela manipulação tendenciosa das justificativas utilizadas para o combate do próprio Africano. Um bom exemplo dos efeitos destas ações, segundo Aquino (2011), ocorreu no ano passado, quando o programa Globo Rural levou ao ar uma matéria sobre a infestação do Africano em três municípios sergipanos, tradicionais pelo cultivo de laranjas. Apesar dos estragos causados por este animal durante a apresentação da matéria não terem sido mostrados, ficou claramente evidenciado, a presença de uma grande quantidade de caracóis nativos endêmicos mortos entre os milhares de Africanos, ficando provado, pela primeira vez em rede nacional, os efeitos reais da nefasta campanha em prol da erradicação do Africano sobre os nativos, muitos deles, ameaçados de extinção.
Em relação ao “grande risco à saúde humana”, por exemplo, até hoje, janeiro de 2012, mesmo depois de o Africano estar presente em todos os estados brasileiros, de acordo com Aquino (2011), nunca houve um único caso publicado, apesar dos esforços, de qualquer zoonose transmitida por ele no país. Não que isso não seja possível, mas está mais do que provado que esta possibilidade é raríssima. E como podemos constatar hoje, apesar dos esforços combinados das unidades de saúde em todo o país, a sua erradicação até o momento não foi possível.
Em nossa busca pela origem do medo irracional da população pelo Caracol Africano (Achatina fulica) que como sabemos, extrapolou para as espécies nativas, o nome do Instituto Brasileiro Helicicultura (IBH) e de seu presidente, William do Amaral, contraditoriamente, surge com grande destaque. Contraditoriamente porque, autodenominando-se técnico especialista na área da Malacocultura Terrestre, William do Amaral foi, até a primeira metade de 2001, um fervoroso defensor da adoção da Criação de Caracóis para comunidades carentes no Brasil para então, a partir da segunda metade deste mesmo ano, transformar-se no maior inimigo público declarado do Achatina fulica, dando início à campanha, neste mesmo ano executada pelo IBH e adotada pelo IBAMA que arraigou, ao longo dos anos, o medo e o preconceito também entre os Governos Municipais e Estaduais, sem esquecer-se de citar a mídia brasileira. De acordo com Colley & Fischer (2009, p. 678) esta “eficiente” Campanha levada a cabo na década passada foi denominada "Programa Nacional de Saneamento Ambiental da Invasão do Achatina fulica - Preocupação Nacional" e, seus efeitos, repercutem-se até os dias atuais, numa nefasta influência que ultrapassou fronteiras, tendo contribuído diretamente para a criação de um impensável neologismo na língua portuguesa, a malacofobia.
O mais curioso é que Amaral, apesar de todo o seu empenho, não chegou a participar da equipe da "Comissão Interinstitucional para Ordenamento e Normatização da Criação da Espécie Exótica Achatina fulica" em agosto de 2001 por improbidade curricular, de acordo com comunicação pessoal.  De acordo com seu currículo, William do Amaral tem duas "especializações" em ecologia, uma delas, de "uma semana"; é pregoeiro eletrônico, holoterapeuta formado em ReiKi Master Usui, Osho, Kahuna e Tibetano, Sensei Gendai-Reiki-HO, Acupunturista Auricular, Iridologista, Terapeuta Floral, Cromoterapeuta, Radiestesista, Radiônica, Bioenergias, Geobiologia, Massagem Shiatsu, Relaxamento e Meditação, Numerólogo, Teologia Gnóstica e Esotérico de Cabala. Atualmente é aluno de Homeopatia Clássica pela UFV e Presidente da Fundação CEDIC - Centro de Experimentação e Divulgação Científica, se apresentando na condição de Engenheiro, atuante como consultor técnico ambiental do IBAMA, além de Diretor do IBH - Instituto Brasileiro de Helicicultura, Pesquisador em Saneamento Ambiental de Espécies Exóticas Invasoras em Áreas Urbanas, Peri-urbanas e agrícolas e, todavia Consultor Técnico de Malacologia da Rede Globo.  Entretanto, as informações não são atualizadas pelo autor desde o ano de 2008. (P. LATTES, 2012).
No entanto, em 2004, tão repentinamente como surgiu em 1999, William do Amaral, - presidente do IBH - desaparece do âmbito público malacológico nacional. Durante este curto, porém, prolífero período, o IBH gerou folders, comercializou livros e CDs, distribuiu cartazes, produziu vídeos comerciais, ministrou palestras e apresentações na TV, participando de atos públicos oficiais.
As conseqüências desse notável, porém, nefasto esforço, tem sido fortemente combatido pela Campanha Aliança pela Vida, criada e conduzida pelo Médico Veterinário e Ambientalista Mauricio C. Aquino com o apoio do Geógrafo e Pesquisador Malacologista Ignacio Agudo-Padrón, cujo objetivo principal justamente é quebrar este infeliz paradigma.

Referências:
AMARAL, William do. 2001. Projeto Caracol. In: Programa e Resumos XVIII Encontro Brasileiro de Malacologia – XVII EBRAM, Recife/ PE, Julho de 2001.
AQUINO, Mauricio. A imprensa, o maior inimigo da malacofauna mundial. Disponível em: <http://projetocaramujoafricano.blogspot.com/2011/10/imprensa-o-maior-inimigo-da-malacofauna.html> Acesso em: 03/01/2012.
AQUINO, Mauricio. Interdisciplinaridade: o Africano em todos os estados do Brasil. <http://projetocaramujoafricano.blogspot.com/2011/09/interdisciplinaridade-uma-saida-para.html> Acesso em: 03/01/2012.
COLLEY, Eduardo; FISCHER, Marta Luciana. 2009. Avaliação dos problemas enfrentados no manejo do caramujo gigante africano Achatina fulica (GASTROPODA: PULMONATA) no Brasil. Zoologia, Curitiba, 4(26): 674-683.
PLATAFORMA LATTES. Currículo de William do Amaral. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4746498P4 > Acesso em: 04/01/2012
EBRAM XVII. I Simpósito nordestino de Cultivo de Moluscos Bivalves. Livro de Resumos. 17 a 20 de julho de 2001. Disponível em: <http://issuu.com/sbmalaco/docs/livro_resumos_xvii_ebram_recife_2001?mode=window&backgroundColor=%23222222> Acesso em: 04/01/2012.

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