Aqui, o consumo de uma fonte de proteína exótica (Africano), considerada praga, poderia colaborar com o meio ambiente, desviando a atenção dos animais silvestres, hoje, predados para servirem de alimento, pelos rurícolas brasileiros, assim salvaríamos também, muitas pacas, tatus, cutias, gambás, cuicas, enfim, um longa lista.

Um bilhão de pessoas, quase um sexto da população mundial, sofria de desnutrição em 2009, de acordo com Martins (2009, p.1) e embora o Brasil seja o quarto maior produtor mundial de alimentos, produzindo 25.7% a mais do que necessitamos para alimentar nossa sua população, ele também ocupa, entre todos os países no mundo, o 6° lugar em subnutrição.
“A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que anualmente desperdiçamos 26 milhões de toneladas de alimentos no país. O montante seria suficiente para alimentar 35 milhões dos cerca de 72 milhões de brasileiros, segundo o IBGE, em situação de insegurança alimentar.” (ECODEBATES, 2009) De acordo com a FUNDAMIG (2009, P.1) o desperdício diário equivale a 39 mil toneladas de alimentos, quantidade suficiente para saciar a fome de 19 milhões de brasileiros, com as três refeições básicas: café da manhã, almoço e jantar.
“A Bahia é o estado brasileiro com a maior concentração de pessoas em situação de extrema pobreza (2,4 milhões), de acordo com dados Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. [...] Os três estados com maior número de pessoas em extrema pobreza estão no Nordeste - o segundo é o Maranhão (1,7 milhão) e o terceiro é o Ceará (1,5 millhão). O Pará, na região Norte, é o quarto (1,43 milhão). O quinto é Pernambuco (1,37 milhão) e, em sexto, está São Paulo (1,08 milhão). [...] O ministério informou que o Brasil tem 16,27 milhões de pessoas nessa condição.” (WSCOM, 2011) O estado de Alagoas aparece em 10º lugar e segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, temos 633.650 pessoas em extrema pobreza, o que representa 20.3% da população total do estado. (CALHEIROS, 2011)
Para que o governo possa assegurar segurança alimentar para toda a sua população, de acordo com o Bancodealimentos (2011, p.1), é importante discutir-se várias causas: cidadania; distribuição igualitária de alimentos e combate ao desperdício; superação da pobreza; escolaridade e saneamento básico; inserção social; geração de renda; quantidade e qualidade da alimentação.
Uma educação de qualidade, pelo menos em minha opinião, é prioridade entre todas as outras, pois dar o peixe ajuda a matar a fome, mas não ensina ninguém a pescar, contribuindo apenas, para a perpetuação do assistencialismo em favorecimento da miséria, o que só beneficia a curto prazo, a classe política dominante que, tradicionalmente, manipula esses eleitores na base do toma-lá-dá-cá.

Mas até que possamos colher os frutos da conscientização social em prol da segurança alimentar, o caracol africano, que a imprensa vem alardeando como uma praga nociva, na verdade, engendra algumas das qualidades essenciais para minimizar a desnutrição do país: abundância e alto valor nutricional. Segundo Agudo-Padrón (2011)o Achatina (Lissachatina) fulica (Bowdich, 1822) encontra-se hoje ocupando todos os Estados da União, confirmadamente desde o Roraima, RR até o Rio Grande do Sul, RS. E dos sete (7) Biomas biogeográficos de terra firme ocorrentes no Brasil, apenas o "Bioma Pampa" é o único ambiente natural que "ainda" não foi invadido pelo caracol exótico africano Achatina (Lissachatina) fulica (Bowdich, 1822). A sua Distribuição mais "Meridional" (ao Sul) no Continente da América do Sul encontra-se justo no Brasil, na cidade e Município de Torres, RS, domínio da Mata Atlântica limítrofe com o Bioma Pampa. Os registros conhecidos da espécie para os vizinhos países do Paraguai e da Argentina também correspondem ao domínio da Mata Atlântica.
Em setembro deste ano participei do encontro brasileiro de malacologia, que reuniu os maiores nomes do país no XXII EBRAM – 2011, em Fortaleza e durante um dos debates, sugeri que o caracol africano, presente hoje, em todos os estados brasileiros, poderia constituir-se numa alternativa alimentar de excelente qualidade, capaz de minimizar a desnutrição das comunidades mais carentes e para isso seria necessário apenas, eliminar-se o preconceito alimentar. Esta prática contribuiria ainda para o eficiente controle do Caracol Africano, como vem ocorrendo, contemporaneamente, na China.

Não é preciso dizer que a sugestão gerou um debate exaltado entre eu e alguns pesquisadores que fingem desconhecer a realidade da fome no Brasil, ou pior, desconhecem mesmo!
Atualmente, o Brasil lidera o processo de extinção de de "caracóis nativos endêmicos" no continente sulamericanos, muitos deles ameaçados de extinção devido a ação antrópica. Mas essa situação começa a mudar, pois há um consenso quase generalizado de que a "Campanhas Públicas Terrorístas - Doentías e Mal Conduzidas" desde o ano de 2003 "Pro Erradicação do Caracol Africano (Achatina fulica) no Meio Ambiente do Brasil” têm como reflexo, a aceleração do processo de extinção das nossas espécies nativas de caracóis terrestres, especialmente os representantes específicas das Famílias BULIMULIDAE, STROPHOCHEILIDAE e MEGALOBULIMIDAE, muitas delas formas raras, endêmicas e no geral muito pouco conhecidas cientificamente até hoje. E o pior é que o Brasil, com suas dimensões continentais e aparente desenvolvimento, vem influenciando seus "vizinhos territoriais" a seguir a mesma trilha desastrosa (AGUDO-PADRÓN, 2011)
Mesmo assim outras sandices vêm sendo praticadas, entre elas, a difusão em larga escala de inverdades que definem o Africano como espécie não comestível, como hospedeiro intermediário responsável pela transmissão de um significativo número de casos de Meningite Eosinofílica, como se ele fosse o único capaz de transmiti-las no país ou até identificá-la como transmissora da esquistossomose, uma gravíssima doença transmitida por outro gênero de molusco nativo.
Resumidamente, podemos citar, de acordo com Thiengo et al. (2010, p.198) a ocorrência de apenas 4 casos de Meningite Eosinofílica no país nos últimos anos devido, exclusivamente, a ingestão de moluscos crus. Dois casos no Espírito Santo e dois em Pernambuco. (CALDEIRA et al., 2007)
NENHUM DESSES CASOS ESTÃO ASSOCIADOS AO CARACOL AFRICANO!
Além do Africano, outros moluscos têm sido apontados como hospedeiros intermediários do A. cantonensis: Sarasinula marginata, Subulina octona, Bradybaena similaris, Pomacea lineata e o Pomacea canaliculata Mas devem existir muitos outros, pois, de acordo com Thiengo et al., (2010, p.198) o A. cantonensis e outras espécies congêneres como o A. costaricensis tem baixa especificidade em relação aos seus hospedeiros intermediários e vários moluscos terrestres e aquáticos tem sido encontrados naturalmente infectados.
Outra revelação é a citação de Maldonado Júnior et al. (2010) que sugere que a distribuição silvestre do A. cantonensis no Brasil seja fruto, provavelmente, de múltiplas introduções do parasita desde o período colonial, devido ao intenso comércio existente na época que favoreceu a introdução de ratos infestados pelo parasita. Logo, tudo leva a crer que a ME é uma enfermidade muito rara, pois já deveríamos tê-la diagnosticado anteriormente no Brasil já que o parasito e os seus hospedeiros intermediários estão aqui há séculos.

Este é mais um argumento que me leva a sugerir o uso do Caracol Africano como alimento para a população e como forma de controle populacional.
Fagbuaro (2006, p.688) assegura que o Africano é uma boa fonte de proteínas (18 ~ 21%) onde na Nigéria, um único caracol pequeno, com 25 gramas, fornece 45% da necessidade diária de PTN de uma criança. Hoje em dia, caracol é uma parte significativa e essencial da dieta diária de várias tribos no litoral nigeriano. O caracol é rico em minerais como zinco, magnésio, cálcio, fósforo, potássio, sódio e ferro.
De acordo com Bender (1992) o ferro presente na carne de caracóis é 35% absorvido pelo nosso organismo, contra 1 ~ 10% do ferro presente em alimentos de origem vegetal. Portanto, o consumo do Caracol Africano não só é recomendável, mas pode minimizar a desnutrição milhões de jovens e adultos em nosso país e, quem sabe, salvar milhares de vidas.
Mas para isso, o preconceito generalizado contra o caracol africano deve ser combatido com todas as armas disponíveis. Dessa forma o copo meio vazio seria visto como meio cheio e com esta simples aceitação da realidade, estaríamos transformando um problema, numa solução.
“Não se chegará jamais à paz com o mundo dividido entre a abundância e a miséria, o luxo e a pobreza, o desperdício e a fome. É preciso acabar com essa desigualdade social”. Josué de Castro
Referências:
AGUDO-PADRÓN, A. Ignacio. Projeto "Avulsos Malacológicos - AM", Florianópolis/ SC, Com. pers. 2011.
BANCODEALIMENTOS. Consolidação da segurança alimentar e nutricional no Brasil. Disponível em:
BENDER, A., 1992. Meat and meat products in human nutrition in developing countries FAO Food and Nutrition. FAO, Rome, p.53. Disponível em:
CALDEIRA, Roberta Lima; MENDONÇA, Cristiane LGF; GOVEIA, Christiane Oliveira. First record of molluscs naturally infected with Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1935) (Nematoda: Metastrongylidae) in Brasil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 102, n. 7, p.887-889, nov. 2007. Mensal.
CALHEIROS, Valdete. Segurança Alimentar é desafio em Alagoas. Disponível em: < http://www.ojornalweb.com/2011/09/25/seguranca-alimentar-e-desafio-em-alagoas/> Acesso em: 26/09/2011.
ECODEBATE. Volume de alimentos desperdiçados no país alimentaria 35 milhões de pessoas. Disponível em:
FAGBUARO, O. et.al. Nutritional status of four species of giant land snails in Nigeria. Journal of Zhejiang University SCIENCE B. Nigériga. 2006 7(9):686-689. Disponível em:
FUNDAMIG. A lixeira não sente fome. Disponível em:
MALDONADO JúNIOR, Arnaldo et al. First report of Angiostrongylus cantonensis (Nematoda: Metastrongylidae) in Achatina fulica (Mollusca: Gastropoda) from Southeast and South Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, p. 938-941. nov. 2010. Disponível em:
MARTINS, Fernanda. ONU Avalia que a fome no mundo cresceu: Combinação de crise alimentar com a desaceleração econômica global fez com que esse número aumentasse em 2009. Espaço Cidania. Disponível em:
THIENGO, S.C. et al. The giant African snail Achatina fulica as natural intermediate host of Antiostrongylus cantonensis in Pernambuco, northeast Brasil. Acta Tropica, Rio de Janeiro, p. 194-199. 18 jan. 2010.
WSCOM. Bahia é o estado com mais pessoas em situação de miséria, diz governo: Segundo ministério, Bahia tem 2,4 milhões de extremamente pobres. Nordeste é a região que concentra maioria de pessoas nessa condição. Disponível em:
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