Thursday, October 13, 2011

FÓSSIL DE UM PAULISTA PRÉ-HISTÓRICO

"Por wilson yoshio:
Estudo revela hábitos deLuzio, caçador que viveu há 10 mil anos; sua ossada, encontrada no Vale doRibeira, é a mais antiga do Estado / Alexandre Gonçalves.


O paulista mais antigo de quese tem notícia viveu há 10 mil anos no Vale do Ribeira. Caçava animais depequeno e médio porte, como preás, cotias e porcos-do-mato. Devia enriquecersua dieta com tubérculos e frutos. Caminhava sobre riachos, mas não gostava de comer peixe. Um estudo divulgado na semana passada analisa a composição química dos seus ossos e lança luz sobre os hábitos alimentares de Luzio - como foi batizado pelos cientistas. O trabalho também discute a misteriosa origem do paulista pré-histórico.
Vestígios de paleoamericanos, como são conhecidos, normalmente são encontrados no interior do continente. No Brasil, foram achados no Planalto Central - em Lagoa Santa, a 40 quilômetros de Belo Horizonte, terra de Luzia - e no sertão nordestino - no Piauí, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Oriundo da floresta, só Luzio. A julgar pelas informações inscritas no seu esqueleto, estava adaptado à Mata Atlântica.
Paralela à costa brasileira, há uma barreira natural de montanhas que dificulta o acesso ao interior."O Vale do Ribeira é um corredor natural que liga o continente ao litoral", recorda Sabine Eggers, do Instituto de Biociências da USP, principal autora do trabalho publicado quarta-feira na PLoS One. "E Luzio foi encontrado ali, no meio do caminho."
Apesar de se alimentar como um homem do interior, perto dos seus rastos foram encontrados dois dentes de tubarão que sugerem contato com o litoral.
Além disso, estava enterrado em um sambaqui - estrutura construída com conchas pelos nativos. Até então, os sambaquis eram associados a populações ameríndias tradicionais, mais recentes. Paleoamericanos não pareciam construir sambaquis.
Praieiro. Luzio causou perplexidade: era um paleoamericano ligado à praia, enterrado em um sambaqui na Mata Atlântica. "O resultado do teste de carbono 14 (que datou o achado) surpreendeu", afirma Levy Figuti, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP). Sua equipe descobriu Luzio durante um projeto sobre sambaquis fluviais no Vale do Ribeira, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O arqueólogo Paulo De Blasisera responsável pelo Sambaqui Capelinha, onde Luzio foi encontrado. As pesquisadoras Claudia Plens e Maria Cristina Alves exumaram o esqueleto envolto em conchas de caramujos e argila laranja. "Como estava próximo da superfície - cerca de 10 centímetros -, achamos que era material recente", explica Figuti.
Não se sabe se o povo de Luzio veio da costa e depois colonizou o interior, ou se fez o caminho inverso. Sabine prefere a primeira opção. Pondera que é mais fácil se adaptar e migrar nos ambientes costeiros - que guardam uma semelhança maior entre si que os terrestres.
Mercedes Okumura, do MAE, participou da craniometria de Luzio e concorda com Sabine. "O ambiente da costa apresenta recursos mais abundantes", afirma Mercedes. Contudo, a cientista lembra que possíveis sambaquis de paleoamericanos na costa dificilmente serão encontrados. "O nível do mar era mais baixo há 10 mil anos", afirma. "Agora, estariam submersos."
Para desvendar as questões suscitadas por Luzio, seria necessário encontrar outras pistas na região."Temos planos de novas escavações", garante Figuti.
O brasileiro Andre Strauss, do Instituto Max Planck, na Alemanha, estudou minuciosamente rituais funeráriosdos paleoamericanos de Lagoa Santa. Ele foi orientado por Walter Neves, responsável pela descoberta de Luzia. "O que aconteceu com estes paleoamericanos? Foram dizimados? Misturaram-se aos ameríndios?", questiona, para recordar que estudos recentes apontaram a sobrevivência de traços de paleoamericanos entre os índios botocudos, no Brasil, e em nativos que habitavam a região de Baja Califórnia, no México.
PARA ENTENDER
Os pesquisadores analisaramisótopos de nitrogênio e carbono obtidos no colágeno dos ossos de Luzio. Aconcentração dos vários isótopos depende da dieta do sujeito estudado,especialmente da origem (marinha, fluvial ou terrestre) dos alimentos e das espécies vegetais consumidas. Os testes - realizados com falanges do pé de Luzio - foram feitos na Universidade Texas A&M e nos Laboratórios Geochron, nos Estados Unidos."


Megalobulimus gummatus (Hidalgo, 1870)

EXCELÊNTE REPORTAGEM GRÁFICA ...!
Definitivamente o caracol (... não caramujo !) tráta-se de um nativo Megalobulimus, muito provávelmente da espécie Megalobulimus gummatus (Hidalgo, 1870), espécie de grande e robusto porte que, conforme SIMONE (2006: 211), ocorre no território do Estado de São Paulo, SP, além de outras localidades do Sudeste e Sul do Brasil.
Abraços, e bom trabalho/ pesquisa !
Ignacio. Maiores informações:


O Bulimo é um animal típico de florestas úmidas, salve engano, declima temperado. Então, nessa região da Bahia provavelmente o climaera mais úmido, com florestas, e talvez mais frio, há alguns milharesde anos atrás. (Ainda vou me informar sobre paleoclimas...). Ignacio,pode me ajudar com esse raciocínio?Voce disse que enquanto coletava Achatinas em uma de suas viagens emAlagoas, trouxe um Bulimo, também. Isso indica ambientes ainda favoráveis à espécie. Se bem que a espécie que voce encontrou aí emAlagoas pode ser diferente das espécies daqui da Mata Atlântica (nãolembro se voce chegou a saber que espécie era), assim como as espéciesfósseis da Bahia e agora do Vale do Ribeira, podem ser diferentes dasatuais (11 mil anos atrás). Se bem que o Ignacio Agudo sugeriu uma espécie conhecida. Seria interessante conhecer o que os pesquisadoresdo Luzio dizem sobre a espécie dos caracóis encontrados.Alguém sabe se os índios atuais consomem o Bulimo ou outros moluscosterrestres? Ignacio, sabe se existem espécies de Bulimos na Amazônia? Clima úmidoporém muito quente.De qualquer modo, o Luzio e seu povo já estavam contribuindo para oextermínio do Bulimo...
:-) Rita



Enquanto isso no Brasil contemporâneo, enterramos toneladas de caracóis vivos em todo o país. Fico imaginando o que os arqueólogos do futuro vão dizer quando encontrarem tantos africanos juntos! Provavelmente publicarão dezenas de artigos científicos afirmando que adorávamos o Achatina, pois comíamos tanto que empilhávamos milhares de conchas até formar enormes sambaquis. Ou... que éramos um povo tão rico, mas tão rico, que jogávamos comida fora... ou talvez, fossemos tão religiosos que fazíamos oferendas ao nosso principal Deus, o Deus do desperdício. É mole?
Mauricio.



2 comments:

  1. Enquanto diretor de Espeleomergulho do Centro Espeleológico de Alagoas (CEA) encontrei no interior de cavernas na Bahia, na cidade de Paripiranga, próximo à divisa com Sergipe, blocos de sambaquis, contendo conchas amontoadas de Megalobulimus em processo de fossilização, demonstrando o hábito pelo seu consumo por antigos ocupantes nesta região, há milhares de anos.

    Mauricio Aquino

    ReplyDelete
  2. EXCELÊNTE REPORTAGEM GRÁFICA ...!

    Definitivamente o caracol (... não caramujo !) tráta-se de um nativo Megalobulimus, muito provávelmente da espécie Megalobulimus gummatus (Hidalgo, 1870), espécie de grande e robusto porte que, conforme SIMONE (2006: 211), ocorre no território do Estado de São Paulo, SP, além de outras localidades do Sudeste e Sul do Brasil.

    Abraços, e bom trabalho/ pesquisa !

    Ignacio.

    ReplyDelete