Saturday, January 29, 2011

VAMOS FALAR FRANCAMENTE?


Mauricio Aquino
Médico Veterinário
Pós-graduado em Docência para para o Nível Superior
Mestrando em Ciências da Saúde
www.CaramujoAfricano.com
projeto@caramujoafricano.com

As conquistas tecnológicas alcançadas na suinocultura brasileira deveriam ser motivo de orgulho para todos os brasileiros; um misto de várias tecnologias de ponta reunidas para a produção abundante de proteínas de alta qualidade a um preço acessível para quase toda a população. Em 2009, de acordo com Neto (p.1, 2009) existiam “30 milhões de suínos, produção de 3 milhões de toneladas de carne, geração de 630 mil empregos diretos e indiretos, investimentos no campo e na indústria de R$ 9 bilhões, receita de R$ 84 bilhões, sendo R$ 30,4 bilhões no mercado interno, R$ 2,6 bilhões no mercado externo, R$ 51,6 bilhões na distribuição e no varejo, é uma importantíssima atividade econômica, principalmente no Sul e Sudeste do País. [...] As perspectivas são animadoras, pois o consumo vem se ampliando com o crescimento da economia, com o aumento do poder aquisitivo dos brasileiros e o reconhecimento pelo consumidor do sabor inigualável da carne suína”.
Mas como toda história tem 2 lados, sou obrigado a citar um artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, que avaliou a mortalidade humana relacionada à cisticercose, uma zoonose transmitida quando ingerimos carne de porco mal cozida e nos contaminamos com larvas do parasita Taenia solium. De acordo com Marques (p.1, 2010) o médico Augusto Hasiak Santo, da USP, foram identificadas entre 1985 e 2004, 1.570 mortes relacionas direta e indiretamente à cisticercose, uma média de 82 mortes por ano apenas no estado de São Paulo.
Ao se alimentar de carne de porco crua ou mal cozida o homem pode ingerir a forma larvária da T. solium, que se transforma em verme adulto e causa infecção no intestino. O homem passa, então, a eliminar nas fezes os ovos do parasito. Caso sejam ingeridos, através da falta de higiene pessoal ou ao consumir alimentos contaminados, podem cair na circulação sangüínea e se alojar em qualquer parte do corpo, como músculos; sistema nervoso central e até no globo ocular, originando a cisticercose.
O artigo da FIOCRUZ afirma que a “cisticercose do sistema nervoso central é a mais importante doença neurológica de origem parasitária em humanos e está atualmente espalhada pelo mundo, sendo um dos principais problemas de saúde nos países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina".
A pesquisa do médico Augusto Hasiak baseou-se em informações da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de São Paulo e do Departamento de Informática do SUS (Datasus) e observou que as cidades com o maior número de mortes relacionadas à cisticercose em São Paulo foram: Campinas, Ribeirão Preto, Santo André e Guarulhos.
Dois pesos, duas medidas. O Achatina fulica, introduzido no Brasil a 22 anos, de acordo com Paiva (2004) é responsabilizado até hoje, por dois óbitos em todo o país. Já os suínos, apenas no estado de São Paulo, em um único ano, são responsáveis por 82 mortes. Então, porque não se fazer campanhas contra o seu consumo? Seria porque o suíno é gostoso? Por que faz parte do cardápio do homem há milhares de anos? Por que apresenta características zootécnicas que nos permitem criá-los por um custo acessível a maioria da população? Ou por que movimenta bilhões de dólares anualmente e emprega mais de meio milhão de pessoas apenas no Brasil?
Na verdade a resposta pouco importa pois, falando francamente, independentemente da minha ou da sua opinião, ninguém irá proibir o consumo da carne suína por conta das zoonoses, pois todo mundo sabe que a carne de porco tem que ser bem cozida para matar os “micróbios” (cisticercos). Este é um ensinamento que herdamos de nossos pais que, por sua vez, herdaram de nossos avós e assim, geração após geração, através da transmissão oral, já nos acostumamos com a idéia do risco calculado.
A mesma história se repete com o caracol Achatina fulica, exceto pela a taxa de mortalidade que, em todo o país, é infinitamente menor, uma a cada 11 anos. O problema é que nesse caso específico, a “transmissão oral” foi determinada pela imprensa que, ingenuamente, vem difundindo opiniões alarmistas unilaterais. Mas isso está mudando!
Não consigo imaginar outra justificativa para explicar a grande impopularidade do Achatina fulica no Brasil, além do preconceito e a ignorância, especialmente no que concerne ao seu consumo como alimento, portanto, pense nisso antes de saborear o seu próximo pernil e lembre-se, o Achatina fulica além de infinitamente mais seguro que a carne de porco, ainda é ligth! ☼
Referências:

MARQUES, Fernanda. Mortalidade relacionada à cisticercose cai em SP, mas ainda requer mais atenção. Agência FIOCRUZ de notícias. Disponível em: http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1476&sid=9&tpl=printerview > Acesso em: 22/12/2010.

NETO, Pedro de Camargo. O desafio de ampliar o mercado externo. Disponível em: Acesso em: 23/12/2010

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