Wednesday, April 20, 2011

NOVO MANEJO BRASILEIRO INTENSIVO PARA CRIAÇÃO DE CARACÓIS

Mauricio Carneiro Aquino, MV. Pós-graduação em Docência para o Nível Superior. Aluno do Curso de Mestrado em Ciências da Saúde da UFAL www.caramujoafricano.com / projeto@caramujoafricano.com



As caixas que não permitem a passagem de luz, como as amarelas, das fotos acima, servem apenas para o armazenamento dos caracóis. O ideal, para completar o ciclo, crescimento, reprodução e postura, é que elas sejam transparentes. Leia OBSERVAÇÃO COMPLEMENTAR no final deste artigo.

Atualmente a forma de criação mais adotada nas criações comerciais de caracóis no exterior é a extensiva.
Mas no Brasil, a criação intensiva em caixas foi a forma mais difundida nas décadas de 70 a 90, no entanto, esta prática apresenta grandes desvantagens: primeiramente, a necessidade de mão-de-obra intensiva porque caixas com componentes fixos, com muitos cantos de difícil acesso, dão trabalho para higienização, consumindo muito tempo e mão-de-obra.
Em segundo lugar, o manuseio excessivo dos animais para a realização de uma higienização minimamente satisfatória, gera muito estresse, especialmente porque os caracóis são manipulados durante o seu período de repouso fisiológico, entre as 08:00 e 18:00 horas, que coincide com o horário comercial de trabalho.
Finalmente, a dificuldade de higienização gerada pelas caixas de madeira e tela, engendrava condições ideais para a proliferação de microorganismos: bactérias, vermes e protozoários, contribuindo para uma mortalidade significativa e até epidemias.
No entanto, a criação intensiva, se realizada corretamente, apresenta grandes vantagens, entre elas o menor tempo entre o crescimento e o abate dos caracóis; menores perdas devido às intempéries e os predadores; menor espaço necessário para uma alta produção. No entanto, para que a criação intensiva possa ser adotada com sucesso ela tem que ser reformulada, drasticamente.
Como pesquisador e criador, pude observar o comportamento dos animais e de seus principais parasitos e com o tempo, aperfeiçoar o manejo para minimizar as desvantagens deste tipo de criação. Primeiramente, analisamos a fisiologia comportamental básica do Achatina fulica.

Colocamos 49 animais da espécie Achatina fulica asselvajados entre duas bacias plásticas, emborcadas uma sobre a outra e separadas, parcialmente, por uma tela de sustentação para o comedouro e o bebedouro. Os caracóis foram observados a cada 2 horas, durante um dia inteiro. Registramos uma menor atividade dos componentes do grupo entre as 08:00 e as 18:00 horas e a atividade máxima foi registrada durante a noite, em torno das 02:00 horas, em plena madrugada, onde 27% dos caracóis estavam em franca atividade, se alimentando ou se locomovendo ativamente. Entre as 10:00 e as 16:00 horas, período em que os caracóis estavam num estado letárgico, no teto da caixa superior, não foi registrada nenhuma atividade. Essa simples observação nos permitiu sugerir uma nova metodologia de criação muito mais eficiente.
A priori, a adoção das caixas plásticas, dispostas uma sobre a outra, nos permite separar os animais da maioria de seus dejetos. Durante o dia, entre as 10 e as 16 horas, os caracóis descansam no teto da bacia superior. Já a bacia inferior, repleta de urina e fezes depositadas pela gravidade durante a noite, fica disponível para ser retirada para higienização junto com a tela de sustentação, o comedouro e o bebedouro.
Na prática, a melhor hora para a retirada da bacia inferior para limpeza é entre as 17 e 18 horas. A bacia superior, contendo a maioria dos animais é então invertida, sendo posicionada do lugar da bacia inferior que acabou de ser retirada. Sobre ela são colocadas a grade de sustentação, o comedouro com ração nova e o bebedouro limpos e se quiser, legumes e vegetais. O ideal no momento do tratamento dos animais é dispor de uma bacia, de uma tela, de um comedouro e de um bebedouro limpos, para a imediata substituição, produzindo, consequentemente, um estresse mínimo sobre os animais.
Durante o dia o funcionário responsável pela manutenção da criação deve se dedicar a limpeza do ambiente do criatório e dos utensílios: as bacias, das grades, dos comedouros que, se possível, devem secar ao sol, para obter-se uma melhor higienização.
As vantagens desse novo manejo são:
Uma perfeita higienização, diária, da área mais contaminada do conjunto, a caixa do fundo;
Como os principais agentes etiológicos eliminados nas fezes, principalmente vermes e protozoários, necessitam de um tempo para se tornarem infectantes, a limpeza diária da caixa do fundo, associados a outras formas de profilaxia, como a pulverização dos animais 1 X ao dia, com água misturada com sumo de hortelã, nos permite, praticamente, eliminar a contaminação dos animais, sem o uso de desinfetantes ou medicamentos.
Outro ponto positivo é que, as caixas plásticas, muito mais baratas que as de madeira e com maior durabilidade, além de recicláveis, portanto, ecologicamente corretas, nos permite usar escovas, sabão e até desinfetantes, quando necessário, sem deixar nenhum resíduo no material, devido a sua impermeabilidade, evitando a contaminação dos animais quando for reutilizada.
E finalmente, uma boa higienização nos permite aumentar a concentração de animais por metro quadrado, aumentando a produção, sem aumentar, necessariamente, a mão-de-obra ou o tamanho da área utilizada para a sua produção.
A adoção desse novo manejo na prática da criação de caracóis pode resultar, com muito pouco investimento e esforço, numa fonte saudável e abundante de nutrientes de alta qualidade para a população em geral.
Mas enquanto isso não acontece, o governo deve incentivar o uso deste novo manejo para a criação dos caracóis do gênero Helix pp., gênero cuja criação é permitida pelo IBAMA no Brasil. No entanto, seu desempenho zootécnico não se compara a do Achatina fulica que, além de muito mais prolífero, também é altamente resistente a doen-
ças. Outra espécie com enorme potencial nutricional e já aproveitado no Nordeste, é o Pomacia que tem na inesquecível pesquisadora Dra Vera Lobão uma referência mundial. ☼
OBSERVAÇÃO COMPLEMENTAR

O uso de bacias plásticas transparentes permite aos animais, em criação intensiva, a distinção entre dia e noite, ou seja, o fotoperiodismo fisiológico.
A escuridão gerada pelas bacias plásticas sem transparência leva à perda dessa noção, estimulando a estivação e, consequentemente, comprometendo o crescimento, a reprodução e a diminuição de da expectativa de vida dos caracóis, levando-os à morte prematura.
Na foto acima temos uma bacia transparente embaixo, outra bacia transparente em cima e a tela de sustenção para o comedouro e bebedouro entre ambas, material básico, que nos permite utilizar o novo manejo divulgado no informativo Achatinafulica.com News nº 7 e que batizo agora como método brasileiro de criação intensiva de caracóis. (http://projetocaramujoafricano.blogspot.com/2011/04/novo-manejo-intensivo-para-criacao-de.html)


SENHORES PESQUISADORES, ELIMINAR O CARACOL AFRICANO NO BRASIL NÃO SERÁ POSSÍVEL, ASSIM COMO NÃO FOI POSSÍVEL ELIMINAR A TILÁPIA, A ABELHA AFRICANA, O CAPIM COLONIÃO, O PARDAL... ENTRE TANTAS OUTRAS ESPÉCIES INVASORAS. PORTANTO, VAMOS NOS DEDICAR A PESQUISAS PARA MINIMIZAR SUAS CONSEQUÊNCIAS NA NATUREZA.

Referências:
BERTRAN, Paulo. História da Terra e do Homem no Planalto Central: eco-história do Distrito Federal do indígena ao colonizador. Disponível em: Acesso em: 20 mar 2010.
NUT/FS/UnB – ATAN/DAB/SPS. Alimentação e Cultura. Disponível em: Acesso em: 11 abr 2010
RIBAS, Jaceguay. Criação de Caracóis. Nova opção econômica brasileira. Editora Nobel, São Paulo, 1894.

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